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Yoga: Investigando a si mesmo (e) ou terapia?

Por Professor Eduardo Dias

Neste artigo reflito sobre duas questões importantes dentro do universo do Yoga.



A primeira é sobre aquilo que é o objetivo das práticas e disciplinas de auto-observação através da meditação que permite a investigação acerca da natureza da consciência humana.


O Yoga/meditação foi desenvolvido com o propósito de nos permitir acessar aspectos muito mais amplos de nossa relação com nós mesmos e com o mundo.


A meditação nos permite uma completa reconfiguração no significado do tempo, do espaço, da existência e da consciência.


A segunda questão são os potenciais efeitos de toda a tecnologia do Yoga/meditação em promover mais saúde, seja na mecânica do corpo, no controle do stress e na prevenção e tratamento complementar de algumas doenças como a ansiedade e a depressão.


Para além destas duas questões, primeiramente vou analisar a natureza daquilo que é o objeto de investigação da ciência, da religião e do Yoga.


Esta análise vai facilitar o entendimento do propósito do Yoga.


A ciência tem seu enfoque naquilo que é observável.


A ciência é apoiada e realizada com base no método de medir e caracterizar o comportamento e as propriedades de objetos externos.


Através de suas medições elabora hipóteses e avança até chegar a teorias capazes de entender e prever o comportamento dos objetos observáveis. Estes objetos podem ser desde elétrons até o cérebro humano.


A ciência tem várias teorias sobre a consciência humana e todas são elaboradas e testadas observando o comportamento humano, suas reações e o funcionamento do cérebro.


Esta maneira de observar da ciência ocorre sempre em terceira pessoa, ou seja, na ciência o pesquisador observa o cérebro do participante da pesquisa como um objeto externo a ele e não considera sua própria consciência como algo relevante neste processo.


Já a religião tem seu enfoque naquilo que muitas vezes não é observável.


As crenças nas religiões não são observáveis nem são postas a prova.


Os profetas de origem das religiões definiram uma visão de mundo a partir de suas próprias experiências e o conhecimento dado por eles muitas vezes não é possível observar.


Acreditamos ou não nas revelações e visões de mundo dos profetas, sábios e místicos responsáveis pelo início de muitos dos movimentos religiosos.


O Yoga não tem seu enfoque na observação do objeto externo como na ciência e tampouco aceita o que não é observável.


Toda prática é voltada para sua própria experiencia pessoal. Diferente da ciência que investiga em terceira pessoa no Yoga investigamos em primeira pessoa.


O Yoga tem seu enfoque naquele que observa: o observador interior e consciente. O observador é aquele que vê, ouve, cheira, sonha, sente, saboreia e pensa.


Como no Kena Upanishad: “O EU consciente é o ouvido do ouvido, a mente da mente e a fala da fala”.


Neste Upanishad entendemos como nosso objetivo no Yoga é identificar dentro de nós o verdadeiro sujeito consciente por trás de toda observação, todo o processo mental e além do eu individual.


A investigação através do Yoga é com a consciência que experimenta o mundo. A consciência que simplesmente é e que não pode ser observada pois ela que observa. A consciência dentro de nós, mas também que permeia tudo ao nosso redor.


O Yoga procura por “insights” em questões fundamentais como:


- Quem é aquele que observa e experimenta o mundo?

- Qual é a natureza deste observador?

- Qual sua relação com nossa experiência de um eu, um corpo e uma mente?

- O que é sair da perspectiva do eu e dos estados mentais modificando nosso centro de percepção consciente para fora destes elementos?


Estas questões são a motivação da investigação através do Yoga.


Assim a ciência trata daquilo que é observável, a religião daquilo que não é observável e o Yoga do observador consciente.


Claro que a ciência tem suas crenças assim como Yogis e Yoginis também tem as suas.


As religiões também se preocupam na realização do observador, mas de maneira geral ciência, religião e Yoga tem seus respectivos enfoques entre observável, não observável e o observador, respectivamente.


Ocorre que a ciência com sua inquestionável evolução nos últimos quatro séculos, acabou por provocar enorme impacto em toda a sociedade e em todo o planeta. E o Yoga não pode se ver livre de sua influência.


Nos últimos cento e vinte anos, desde que Swami Vivekananda fez sua fala no primeiro parlamento mundial das religiões em Chicago estabelecendo que o Yoga tem uma ponte com a ciência, a linguagem cientifica se funde ao Yoga.


Yogis que param o batimento cardíaco e a associação dos Asanas e Chakras com as glândulas endócrinas nos mostram este crescente movimento da associação entre Yoga e ciência.


Chegamos ao ponto do título deste artigo: Yoga como investigação da natureza humana ou como terapia?


Mesmo que parte do que é falado no mundo do Yoga não seja realmente baseado em estudos controlados pela ciência, outra parte tem seu impacto validado na saúde humana.


Seja no aumento dos hormônios responsáveis pelo nascimento de novos neurônios, aumento de áreas cerebrais, novas comunicações entre áreas do cérebro, redução do cortisol e modulação do stress, hoje sabemos que modificamos nossas mentes, corpos e relações sociais através da prática disciplinada de Yoga/meditação.


Todo esse impacto nos estados mentais e no corpo afeta a evolução de certas doenças além da flexibilidade, firmeza do corpo e aumento da capacidade respiratória que Asanas e os Pranayamas promovem.


Portanto, Yoga é terapia do sistema corpo/mente e é também investigar e revelar um nível interior de sabedoria que as palavras dizem pouco, mas o acesso a este nível nos indica um mar de conhecimento e revelação daquele que vê e experimenta o mundo.


Acessar este espaço interior com novas e criativas possibilidades de auto percepção é Yoga.


Comece e pratique Yoga a fundo, acesse este nível e seja bem-vindo a você mesmo!


Namaste.


Referências

1. Os Upanishads, Sopro Vital do Eterno, Swami Prabhavananda e Frederick Manchester, Ed. Pensamento.

2. Speech delivered by Swami Vivekananda on September 11 , 1893 at the First World´s Paliament Of Religions in Chicago, www.cgichigago.giv.in

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