Por Professor Eduardo Ferreira
A palavra sabedoria tem sua raiz no latim sapere que significa o que tem sabor e equivale a Sophia (Σοφία) em grego que nos remete ao saber.
Sophia compõem palavras como Filosofia e Teosofia. Em Filosofia o amor a sabedoria e em Teosofia a sabedoria de Teos que é Deus.
Em sânscrito a palavra Prajña ( प्रज्ञ) é a forma mais elevada e pura de sabedoria, entendimento e conhecimento.
Em Prajña somos chamados a conhecermos quem somos de um ponto de vista interior onde desenvolvemos a percepção consciente que nos leva além de nosso próprio eu e rumo ao não-dual. Este saber é relacionado a um estado de percepção em que observamos a nós mesmos e ao mundo com uma ótica clara, límpida e que nos conecta a tudo eliminando o nível de realidade da separação.
Enquanto Sophia trata do amadurecimento do ego em Prajña reconhecemos nossa realidade além do ego. Assim, sabedoria não é de modo algum acúmulo de conhecimento. Podemos entender muito de qualquer disciplina e isto não resultar necessariamente em sabedoria.
Sabedoria é sobre conhecer a si mesmo a partir do desenvolvimento de amor-próprio e aceitação podendo refletir isto no pequeno mundo a nossa volta.
Existe uma arte de Sophia pintada pelo artista americano Alex Gray.
Sophia nesta expressão se apresenta arquetípica como uma força mais antiga do que a própria humanidade e que está presente em todo ser humano. Sophia nos ensina que ela é a Deusa da sabedoria e da ignorância.
Como todo arquétipo e toda a realidade a nossa volta podemos perceber que todo pensamento, ação e emoção tem duas faces. Uma face não existe sem a outra.
A sabedoria só pode existir se existir ignorância e por isso uma Deusa como Sophia tem os opostas integrados dentro de si.
Ao final deste texto indico o link para acessar o quadro de Sophia. Não deixe de visitar e perceber as duas representações do feminino no canto inferior esquerdo e direito da imagem remetendo aos polos opostos que são integrados pelos múltiplos olhos de Sophia.
Vamos agora ao prático.
Como a sabedoria pode entrar em nossas vidas?
O ponto de partida é que a sabedoria não é um objetivo ou um local em que se deve chegar. Sabedoria envolve percepção de si mesmo e perceber de fato a si mesmo significa que muita coisa deve ser transformada.
Devemos transformar a visão que temos de nós apenas como personalidade, abandonar a forte crença que somos bons e existem outros que são maus e nos libertar da ideia autoritária de que o mundo deveria ser como queremos que seja.
Sabedoria envolve uma gradativa percepção de todo o conteúdo reprimido em nós. Nossa história mesmo que muito sofrida é desnudada e se apresenta como a matéria prima do aprendizado e da transformação.
É um enorme trabalho de autoconhecimento que se move por uma vida inteira.
Descobrimos o véu da personalidade que nos leva ao confronto com nossas próprias sombras e tocamos a transcendência além dos opostos. É como ser triste e feliz ao mesmo tempo.
Os opostos se complementam, integrando-se, passando a se manifestar sempre em pares e não mais sozinhos no pêndulo de que a cada hora estou de um lado ou de outro.
Sabedoria envolve amadurecimento emocional a cada novo passo dado na vida.
Descobrimos que existe muito mais dentro de nós e que carregamos toda a experiência e drama humano além da nossa própria individualidade.
A sabedoria se revela no desenvolvimento da autorreflexão pelo autoquestionamento, do Yoga na meditação e na imaginação que nos leva a nossas raízes emocionais mais profundas. Descobrimos que somos o nada e o todo.
A jornada pela sabedoria nos obriga a desenvolver muita humildade, a respeitar, julgar menos e andar mais criativos e livres pelo mundo.
Pessoas mais sabias multiplicam os ensinamentos de sua própria jornada e se lembram sempre:
“Só sei que nada sei”
“Conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo, porque se o que procuras não achares primeiro dentro de ti mesmo, não acharás em lugar algum”
Os dizeres acima ligados ao templo de Delfos e ao desenvolvimento da filosofia Socrática são simplesmente Yoga!
Para consultar Sophia de Alex Gray: