Licea seguia a vida. Apesar do brilho de sua relação com seu marido e do amor pela filha, o trabalho era sua paixão. Trabalhava muito e raramente descansava.
Achava bom que fosse assim pois não precisava dar atenção a sonhos malucos e sua mente não tinha tempo para aquele vazio no centro de seu peito.
Com o aumento da dose de ervas sentia-se mais calma e podia tocar a rotina.
A vida ia passando e Licea tinha uma certeza: a cabeça precisava de ocupação sem parar porque era só ela parar um instante que o vazio ressurgia.
Um certo dia enquanto curtia sua folga e observava sentada a imensa montanha sagrada no horizonte uma voz, mais uma vez, ecoa em seu interior. Era aquela mulher que falava:
- Procure pelo Velho que vai apontar a direção da entrada da caverna na montanha sagrada.
Licea da um pulo da cadeira assustada e grita:
- Chega disto! Estou ficando louca! Não posso parar um instante que essa maldita voz volta a falar dentro de minha cabeça.
Licea vai à procura de atividades até o sol cair e ir para cama. No meio da noite Licea acorda sentindo como nunca aquele vazio no centro do peito. Era tão forte que ela não conseguiu dormir mais.
Dali em diante viver se tornou um martírio.
Além do vazio constante as noites não eram de muita insônia.
Algumas semanas e seu estado físico e mental estavam péssimos. Não havia nada que melhorasse. Não conseguia trabalhar e passava o dia se arrastando.
Exausta daquilo tudo, certo dia Licea olhando para o céu grita:
- Me diga o que quer que eu faça. Eu não aguento mais.
A voz da mulher retorna:
- Posso lhe falar de várias maneiras. Se você não escuta minha voz e minha orientação falo pelo corpo. O sofrimento de seu corpo e mente é outra maneira que tenho de lhe chamar atenção.
Licea então cai em prantos e pede ajuda.
- Licea, siga pela floresta por três dias beirando o rio. Ao final você irá avistar uma pequena casa no morro ao alto. Ali mora o velho. Peça para ele apontar o caminho da caverna.
Licea entra em sua casa e faz as malas. Deixa uma carta ao Marido e a filha. Pede paciência a eles e informa que retornará em dias.
Licea parte e caminha pela floresta.
Na primeira noite ela acampa próximo a um lago. O lago reflete um belo luar.
Em frente ao lago para pegar água, Licea vê refletida sua face. Só que a face é dela nascendo.
Ela perde a respiração e depois de algum tempo consegue dar um grito que libera o sofrimento de seu nascimento.
Ela se sente confusa ficando sua percepção entre a criança que acaba de nascer e a mulher de hoje.
Ela cai e desmaia só acordando com os primeiros raios de sol e a voz da mulher:
- Siga seu caminho. Seu nascimento foi liberado.
Ela levanta e segue o caminho beirando o rio.
Caminhando por todo o dia e muito cansada encontra do outro lado do rio um bom lugar para acampar a segunda noite.
Ao atravessar o rio ela escorrega e é levada pela água. Engole muita água e pensa ser seu fim. Durante o afogamento ela se encontra com a sombra dos sonhos.
Já certa de que vai morrer, resolve confrontar a sombra e vai para cima atacando.
A sombra abre o peito e Licea entra dentro dela e ali percorre os primeiros anos de vida com um grande sentimento de abandono pela mãe.
Sua mãe surge e com muita tristeza lhe pede desculpa. Fala sobre a depressão que sofreu naqueles anos.
Elas se abraçam e a mãe pede que Licea cuide da menina abandonada dentro dela. A menina aparece como uma terceira pessoa e as três se abraçam.
Licea abre os olhos e está em uma pequena praia do rio. A voz então fala:
- Você confrontou a sombra e integrou ela em seu ser. O abandono foi superado. Você deve seguir.
Para ouvir a história sendo contada pelo Professor Eduardo, acesse o nosso Instagram: @escolayogamaya
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